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  • valordaagua

Tudo bem com você, governante?



Desde criança eu queria conhecer a Floresta Amazônica. Por que? Eu não sei lhe responder, mas era um sonho de infância. Esse sonho se tornou ainda mais necessário com os estudos do curso de Geografia. Eram tantas opiniões e debates sobre essa floresta e com os mais variados temas, que eu nunca sabia o que poderia ser o mais assertivo a se fazer para que conseguíssemos focar no que era melhor para a floresta e para o Brasil, já que ela é parte do nosso território.

Integrar economicamente a floresta ao restante do Brasil se faz muito necessário. Ela ocupa mais de cinquenta por cento de nosso território e não dá para fingir que esquecemos de colocá-la no planejamento anual. E tem um detalhe, quanto maior for esse desenvolvimento econômico na floresta, menos preservada ela será.

Mas temos que desenvolver o Brasil e mais de cinquenta por cento do nosso território não pode ficar de fora da conta. E agora preciso da sua ajuda! Deixo para você algumas decisões a serem tomadas sobre a Amazônia. Deixe aflorar o governante que existe em você e escolha a melhor forma de cuidar da floresta. Lembrando que suas decisões influenciarão o presente e o futuro do país. Boa sorte!

Governante! Serei apenas o seu assessor. É difícil pensar em uma economia agroexportadora sem grandes danos ambientais. Então, governante, lhe apresento duas opções! Qual modelo econômico você acredita ser o mais viável? O agronegócio, com enormes produtividades de soja e milho acompanhado de uma grandiosa produtividade de carne para consumo interno e exportação, ou pequenas áreas de grandes números de produtores agrícolas de policulturas?

Para escolher qual dessas opções o país deva seguir, leve em consideração a renda gerada com impostos (que o governo recebe), salários distribuídos (gerados pelas atividades propostas), segurança alimentar (é a oferta e o preço da comida existente no país). Pensando nesses quesitos, qual é a sua decisão?

Agora, apresento outro ponto para lhe auxiliar na escolha entre esses modelos econômicos propostos para a Amazônia. Com o agronegócio, temos desmatamento e queimadas, situações que impulsionam a rápida produtividade e um caminho mais acelerado para a urbanização. Você já perguntou a um índio como ele quer viver no século XXI? Quantos índios você conhece?

Na contramão das queimadas, podemos investir em faculdades e desenvolver mais pesquisas sobre a maior biodiversidade do planeta e descobrirmos matérias-primas, princípios ativos, novos alimentos e sei lá qual o número de novas possibilidades para se descobrir na maior floresta latifoliada ombrófila do planeta. Investir em faculdades, demanda maiores investimentos e maior tempo de retorno do investimento. Porém, podemos descobrir algo extremamente rentável, ou mesmo, só uma vacina com produção mais rápida. Mas manter o agronegócio exportador é um pilar mais concreto de rápido giro de dinheiro e manutenção de alimentos para o atual sistema de exportações no comércio mundial. Assim, uma maneira mais fácil de manter a economia funcionando.

Gerar alimento para nós (pelo menos esse que vos escreve, não conseguiu deixar de comer carne, apenas diminuiu a frequência semanal deste produto em sua dieta) e deixar seu preço no mercado não tão elevado, é bom para manter a popularidade do governo em bons níveis. Ou investir pesadamente em universidades e formarmos uma geração de cientistas que exploram a biodiversidade amazônica, retirando de lá o agronegócio.

Qual caminho devemos seguir, governante?

Um caminho, eu preciso lhe avisar, já está consolidado. Nos últimos dez anos, inauguramos três enormes hidrelétricas na Amazônia: Santo Antônio, Jirau e Belo Monte.

Isso fortalecerá, além da urbanização, também a mineração. O solo amazônico é muito rico em pedras preciosas, e também ferro, alumínio, cobre, ouro, manganês, caulim, estanho, nióbio etc. Governante, lembre-se, quarenta por cento da região é Pré-Cambriana, época em que se formaram os recursos minerais metálicos. Temos muito para extrair da floresta. E isso já está sendo feito. Sem a menor possibilidade de faltar energia elétrica para essa atividade. Você sabia disso, governante? O que acha? Foram causados impactos ambientais, mas em compensação o desenvolvimento da atividade mineradora é gigantesco.

E só para te lembrar Governante, também encontramos gás natural e petróleo no meio do “Espesso e intrincado inferno verde" (apelido dado à floresta pelo fundador da Geografia Física Alexander Von Humboldt).

Preciso saber das suas escolhas, governante! Pois existem muitos conflitos de interesses na floresta. Conflitos que ocorrem há muito tempo. Entre índios, garimpeiros, madeireiros, grileiros, ambientalistas e sem terras. Suas decisões podem acirrar esses conflitos. Cuidado nessas decisões se você pensa em se reeleger.

Temos de pensar também, na política externa. Você conhece o Fundo Amazônia, governante? http://www.fundoamazonia.gov.br/pt/home/ ele tem como principais apoiadores, países europeus como Noruega e Alemanha. Estas nações industrializadas pagam para que nós aqui no Brasil mantenhamos a floresta em pé (fazendo fotossíntese), para que assim eles possam poluir. Deixando os níveis de CO2 sem ultrapassar os limites e não agravando ainda mais o aquecimento global. Esqueci de perguntar, governante: o senhor acredita no aquecimento global? Esse fato pode contribuir para sua tomada de decisões.

Devemos levar em consideração o Fundo Amazônia e o dinheiro revertido para a preservação da floresta ou devemos pensar em aumentar as áreas de produção de carne e soja, para que assim ganhemos mais dinheiro com a Amazônia produtora de carne do que com a Amazônia produtora de oxigênio?

Mas, governante, talvez o mais complicado seja lidar com o tempo amazônico. Será difícil tomar uma decisão que faça com que toda a floresta, os mais de cinquenta por cento do território brasileiro sejam beneficiados por igual. Porque se formos pensar nos povos que habitam a floresta, existe muita discrepância de tempo. Temos em uma mesma região, povos que vão trabalhar no complexo industrial de Manaus em produção de peças aeroespaciais e povos que ainda vivem como antes da colonização. São mais de quinhentos anos de diferença entre povos de uma mesma região!

Qual plano econômico você adotará, Governante? Precisamos integrar a Amazônia à economia brasileira.

Aguardo suas ideias e soluções (deixe ali nos comentários) sobre esses pequenos, corriqueiros e simples problemas de como ganhar dinheiro com a floresta seu animal capitalista!

Porque nem deu tempo de lhe perguntar sobre as mudanças climáticas, se existe ligação entre a diminuição das chuvas na região Sudeste com o aumento do desmatamento amazônico, sobre as fronteiras porosas em que haitianos e venezuelanos entram sem dificuldades, mineradores que atravessam fronteiras para fazer garimpo e não se preocupam com o uso do mercúrio contaminado as águas ou cobrança de impostos.

Sem falar nos pesquisadores e colecionadores de fauna e flora que roubam a biodiversidade sem a menor dificuldade para fazer biopirataria.

Se estiver cansado de pensar nesses problemas e demorar para tomar suas decisões, governante, fique tranquilo. Já já colocam fogo em tudo e assim podemos pensar em outros problemas. Estes já estarão resolvidos. Para o bem ou para o mal.


Abaixo seguem algumas fotos realizadas na aldeia Kikatejé durante o início da cicloviagem em janeiro de 2016













Bibliografia:

Revistas Scientific American Brasil – Amazônia, a floresta do futuro, volumes um e dois.

Amazônia - por Uma Economia do Conhecimento da Natureza. Ricardo Abramovay.

As Amazônias de Bertha K. Becker. Ensaios Sobre Geografia e Sociedade na Região Amazônica.

Iguana. Reflexão Amazônica. Número um





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