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Triste coincidência na vida de quem defende a Floresta Amazônica.

  • valordaagua
  • 25 de out.
  • 4 min de leitura

12 de fevereiro de 2005. Data marcante para o ambientalismo e para a reforma agrária, lembrada pelos conflitos por posse de terras na Floresta Amazônica. Mas para mim, um jovem e iniciante professor de Geografia, apenas mais um tema de preparação para os vestibulares. Não entendia a grandeza do fato, nem de sua personagem principal, Dorothy Stang, missionária norte-americana que foi assassinada com seis tiros em uma fazenda em Anapu-Pa.


Centro São Rafael em Anapu-PA com a famosa frase da missionária: “Eu não corro risco de vida, os colonos sim. Eles têm família”.
Centro São Rafael em Anapu-PA com a famosa frase da missionária: “Eu não corro risco de vida, os colonos sim. Eles têm família”.

Dorothy Stang, chegou ao Brasil na década de sessenta e começou a atuar na proteção dos agricultores familiares e indígenas que não sabiam lutar contra os novos interessados na posse de terras que já tinham dono e onde a fiscalização e o poder judiciário brasileiro não possuíam grande atuação no cumprimento das leis. Essa atuação na defesa das minorias, a colocou em conflito direto contra madeireiros, grileiros e latifundiários incentivados pelo slogan “Integrar para não entregar” da Ditadura Militar que buscava acelerar a geração de riqueza e integração econômica da Floresta Amazônica através da soja e da pecuária em terras baratas e invadidas ilegalmente ao restante do território nacional.

“Eu não corro risco de vida, mas os colonos sim, eles têm família para sustentar” essa frase de Dorothy Stang se encontra no Espaço São Rafael, base de atuação da missionária e que atualmente abriga suas sucessoras e protetoras do legado iniciado e hoje espalhado por vários assentamentos rurais do Pará.

Em 2016 eu tive a oportunidade de conhecer o Espaço São Rafael. Foi muito engraçado estar pedalando meio amedrontado pela Amazônia e sem saber, encontrar um legado gigantesco bem na minha frente. onde Dorothy Stang está “plantada e não sepultada”, na visão de várias pessoas que conviveram com ela e hoje continuam sua luta.

Infelizmente, hoje eu não consigo voltar a esse local onde senti uma imensa ligação ideológica e fui muito bem acolhido, então acompanho através de leituras e recebo informações de amigos para saber como anda a continuação desse legado nessa luta entre os que buscam desenvolver a Amazônia através do desmatamento ilegal e os que buscam desenvolvê-la através do respeito a toda forma de vida e cultura que ali se manifestam.

Entender a Floresta através da luta das minorias contra os desmatadores ilegais é entender que Dorothy Stang é uma triste sucessora de Chico Mendes, assassinado em 1988 e antecessora dos indigenistas Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados em 2022. Em comum, os quatro assassinados tinham a luta pela preservação da Floresta Amazônica.  Crimes encomendados por fazendeiros e grileiros que só querem desmatar a Floresta Amazônica, sem valorizar a biodiversidade e o direito de existir dos povos originários, além de não respeitar as leis que protegem terras demarcadas e o direito de existir das minorias.

Estudar esses acontecimentos, é concluir que essa triste coincidência de crimes encomendados contra o maior patrimônio biológico do planeta ocorre pelo simples fato do Estado brasileiro não conseguir fazer com que as leis federais sejam efetivas em todo o país.

Estes quatro assassinatos obtiveram status midiáticos, tornando-se marcos na história da resistência contra invasores que desrespeitam a natureza, mas infelizmente, muitos tiveram suas vidas ceifadas e não obtiveram reconhecimento de suas lutas e um espaço digno para a manutenção econômica e social de suas famílias.


Vídeo sobre os vinte anos da morte da missionária Dorothy Stang, produzido pelo projeto Pedalágua, que estreia na segunda-feira (27/10) sobre a entrevista que fiz em 2016 no Acampamento São Rafael, em Anapu, PA, sobre o assassinato da missionária Dorothy Stang. Ela foi assassinada em fevereiro de 2005. Passei cinco dias acampado ao lado do túmulo dela para conhecer e entender um pouco sobre a Floresta Amazônica. Estou colocando este vídeo junto de matérias que homenageiam a luta e as vitórias dos povos amazônicos, 20 anos após sua morte.



É uma luta que está longe de acabar. Foi muito triste escrever estas linhas e lembrar que vinte anos após a morte de Dorothy Stang, os mandantes do crime não se encontram presos, o altar pintado como símbolo do legado da missionária foi coberto e o agronegócio avança sobre a Floresta.

Não podemos aceitar a triste coincidência onde todos que defendem a Amazônia sejam sempre assassinados e os assassinos não sejam punidos. Esse texto é escrito em agradecimento a Dorothy Stang, e todas as experiências, vivências e legado em que ela me fez acreditar, divulgar e defender. Mesmo me desapontando com notícias e textos das fontes pesquisadas.


Local onde Dorothy Stang está “plantada, não sepultada”. Essa frase simboliza seu legado ainda vivo e defendido pelos assentamentos rurais que se inspiram na vida e luta da missionária.
Local onde Dorothy Stang está “plantada, não sepultada”. Essa frase simboliza seu legado ainda vivo e defendido pelos assentamentos rurais que se inspiram na vida e luta da missionária.

Hospedagem no Espaço São Rafael com direito a primeira lavagem de roupas, durante os onze meses da ciclojornada realizada por treze estados brasileiros, em 2016.
Hospedagem no Espaço São Rafael com direito a primeira lavagem de roupas, durante os onze meses da ciclojornada realizada por treze estados brasileiros, em 2016.

Altar com pintura em homenagem a luta pela preservação da Floresta e das famílias pelo direito sobre a terra, coberto vinte anos após o assassinato da missionária Dorothy Stang.
Altar com pintura em homenagem a luta pela preservação da Floresta e das famílias pelo direito sobre a terra, coberto vinte anos após o assassinato da missionária Dorothy Stang.

 

Fontes pesquisadas:

https://www.youtube.com/watch?v=0XkXw6qBRVo Episódio um do documentário “Qual é o Valor da Água Para Você” - Pedalando pela Transamazônica BR-230




 
 
 

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