Duas bicicletas, três tombos, redução da bagagem, muito para agradecer e ainda muito por fazer.
- valordaagua
- 14 de nov. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de mar. de 2022
Pedalágua, escrito em Maceio-AL em Maio de 2016
Cinco meses e meio de pedal e oito estados percorridos! Ainda é muito cedo para descrever e organizar tudo que está se passando de uma forma que eu compreenda. É muita experiência nova, com muitos amigos novos e paisagens que me fazem pensar em viajar pelo Brasil dez vezes mais para poder conhecer todo esse país.
Estou aprendendo muito e tendo um primeiro contato com um universo até então desconhecido. Quando observo a primeira foto que tenho com a bicicleta pronta pela primeira vez com toda a bagagem inicial, vejo que eu não sabia no que estava me metendo. Eu não tinha conhecimento nenhum para fazer o que estou fazendo. Só tinha ideias e planos somados a muita força de vontade e com o desejo de promover o debate ambiental pelo país.
Foram cinco meses pedalando e me deliciando com as comidas e frutas típicas das regiões Norte e Nordeste. A quantidade e a variedade das frutinhas me faz pensar na volta, quando começarei frequentar novamente os mercados para comprar maçã, banana e pera, não encontrando mais pitombas, muricis, seriguelas, cajá, umbu e por aí vai. Não posso me esquecer das goiabas, jacas, cajus, acerolas, mangas e cocos colhidos no pé pelas estradas: vou sentir saudades da riqueza natural desta região.
Nessas pedaladas confirmei um fato: o povo brasileiro é show de bola. Escutei muitos pedidos de “não vá por aí! É perigoso”, e posso afirmar que tem mais gente boa que ruim nesse país. Até aqui, consegui tomar banho para dormir sem estar com fome e todas as noites encontrei locais que pude desfrutar de boas noites de sono, algumas com mais comodidade e outras nem tanto. Mas entre postos da BR, casas de amigos instantâneos e poucas pousadas, dormir sem fome e limpo é uma vitória que nos faz refletir sobre nossa zona de conforto na vida.
Tive um problema que atrasou muito meus objetivos, que foi o furto da bicicleta em Fortaleza-CE. Mas, olhando agora, esse episódio me fez conhecer tanta gente e me abriu a mente para continuar pedalando. Isso só me fortaleceu. Descobri que muita gente estava me apoiando, e isso foi muito bom. Saber que você não está fazendo algo em vão e que pessoas te apoiam é muito motivador. Eu realmente gostaria de agradecer pessoalmente cada um que apoiou o Desbikelando para que eu continuasse a pedalar e trabalhar nas escolas públicas, levando oficinas e debates sobre as questões ambientais.

Essa semana começou um novo desafio. Vou continuar pedalando por esse mundão afora e nesse Brasilzão adentro. A temática ambiental ainda continua como foco principal do trabalho que me dispus a fazer esse ano, mas agora irei pedalar para tentar entender porque nosso país, que possui tanta riqueza em água potável e rios, ainda abriga populações e cidades sem acesso a esse precioso bem.
O Pedalágua se inicia essa semana e partiremos da cidade de Delmiro Gouveia, no sertão de Alagoas, para conhecer as pessoas que estão à espera das águas da polêmica obra da transposição do rio São Francisco. A Caatinga, que possui uma baixa oferta de água por habitante, abriga pessoas que podem ensinar aos brasileiros de outras regiões o real valor desse precioso bem.
O Pedalágua quer mostrar o que os brasileiros que vivem com uma baixa oferta de água têm a ensinar aos habitantes das regiões Sul e Sudeste. Este último que, recentemente, passou por uma grave crise hídrica e que agora parece ter esquecido do doloroso fato do racionamento e da falta de água. O Sudeste se esqueceu de que devemos poupar o consumo para não depender do volume morto de suas reservas.
O fato do esquecimento dos problemas enfrentados pela população em relação à água não é novidade. O brasileiro infelizmente sempre teve memória curta. É cultural esbanjar riqueza em nosso país e não se preocupar com o futuro. Podemos afirmar esse fato lembrando que, há pouco menos de um ano atrás, no Estado de Minas Gerais, aconteceu um dos maiores acidentes ambientais da história do Brasil.
O rompimento da barragem fez a vida desaparecer dentro e fora do rio Doce. Alguém se pergunta hoje como estão as pessoas que viviam próximas ao rio? Ou se a natureza já conseguiu se refazer desse acidente? Se alguém se responsabiliza pelo ocorrido? O Pedalágua irá pedalar da foz do rio Doce em Regência, no Espírito Santo, até o local do rompimento da barragem em Mariana-MG para mostrar ao povo brasileiro que temos que pensar mais nas questões ambientais.
Iremos observar o valor que a água possui para brasileiros de diferentes regiões e situações econômicas do país. Buscar a sensibilização do povo para o real valor da água é o foco principal do Pedalágua. E não estamos falando do valor da conta que se paga quando se consome a água, mas do valor da falta desse bem coletivo.

Continuarei contando com o apoio de todos que me ajudaram até aqui para promover o debate ambiental em torno do precioso líquido que mantém a vida em nosso planeta.
Nesse ano, a minha difícil missão não será pedalar os quase seis mil km por esse lindo país, mas sim promover o debate ambiental e tentar sensibilizar o brasileiro para a necessidade de se utilizar a água de forma correta.
Me acompanhe aí, vai. A maioria dos nossos problemas poderiam ser resolvidos com um pouco mais de educação e conscientização ambiental.
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